sábado, 24 de agosto de 2013

Eu, pai de meu irmão...

Sentado na varanda,
eu vejo de longe a senzala;
vejo também o feitor,
cumpridor da demanda;
e os negros sem fala.

Mas na cozinha de nossa casa,
o que vejo é diferente;
esperando o seu sinhô;
esfoguetada feito brasa,
vejo um negrinha sorridente.

Papai dizia os negros odiar,
mamãe era do mesmo pensar;
ninguém da casa podia,
sequer imaginar;
que papai fosse com a negra se deitar.

A negrinha chamada marta,
vira e mexe deu de enjoar;
mamãe achou estranheza,
mandou que a nega se parta,
antes da criança ganhar.

Mas fizeram um combinado,
que assim que a negra parisse;
pra senzala iria voltar,
pra criar o desgraçado;
naquela imundice.

Quando a negra pariu,
o moleque era de nossa cor;
pra mamãe ela entregou;
que da negrinha ouviu,
cuide do filho de seu dotô.

Ela pra papai olhou,
eu ja era menino varão;
mamãe a raiva engoliu,
e o ofício me delegou;
Eu, pai de meu irmão.


Josenildo Ceará.