Video By: Bia Simões
Vim duma trincheira Lá das bandas de aurora
Sem era nem beira...
Minha lembrança chora
Numa triste saudade
Daquela felicidade
Que eu deixei outrora
Porque quando de lá eu sai
De certo, de sorte, morri
Chegando nessa terra prometida
O rebanho atrás e eu na frente
Se arrastando em busca de vida...
Sob o olhar dessa gente
A fome judiando dos onze
E na igreja ressoando sino de bronze
O que me resta é o batente
Naquela hora no choro me perdi
De certo, de sorte, morri
Zequinha, mas o que que há
Nessa terra fria
Que de nada lembra o Ceará...
Não perco a alegria
Sou cabra da peste
Criado no agreste
Que até de tristeza ria
Na seca eu vivi
De certo, de sorte, morri
Aqui não me falta coragem pra trabalhar
E quando me sobra tempo
Entôo meu repente pra parentada alegrar...
Tocando o que vem de dentro
Mato o desejo
Desse sertanejo
Ao menos por um momento
E aos céus agradeci
De certo, de sorte, morri
Na frente de um boi de corte
Passava o dia inteiro de pé
Sem me queixar dessa sorte...
E agora José?
Sujeito do norte
De pulso forte
Quase perdi a fé
Até que na frente do velho rancho, cai
De certo, de sorte, morri
Cabra que nunca tive parada
Muito menos um teto
Enfim me deram essa morada...
Por terra coberto
Foi-se o sofrimento
Restou-se o lamento
Desse poeta deserto
Que num derradeiro gemido digo a ti
De certo, de sorte, morri
Josenildo – Ceará.
* Rabiscos em homenagem a todos os nordestinos, e em memória de meu pai Zequinha que viveu esta saga.